“Essa série [de kwanzas], fui no banco levantar e foi levantado através de empresas. Mas eu entendo que a intenção seja apenas eu ser usado como um bode expiatório, essa é uma guerra híbrida onde eu sou um bode expiatório”, disse hoje Pedro Lussati, em tribunal.
Lussati, major das Forças Armadas Angolanas (FAA) tido como cabecilha de um grupo que, segundo a acusação, defraudou o Estado angolano em milhões de dólares, foi ouvido hoje, no âmbito das alegações orais da defesa e do Ministério Público.
O major angolano, um dos 49 arguidos arrolados no processo, disse ser um empresário honesto, cujos investimentos tiveram início em 1998, referindo que na época já vendeu terrenos de 10 milhões de euros no Talatona, zona nobre a sul de Luanda.
“Quero aqui dizer que os factos sobre os quais o dinheiro que foi encontrado em minha casa não é meu é falso. O que está a passar aqui é mais intimidação, estou a ser agredido, vandalizado, sem roupa sequer, a minha imagem na televisão ficou vandalizada”, atirou.
Lamentou não ter acesso aos seus bens, inclusive a roupa, considerando que o uniforme dos serviços penitenciários angolanos é sujo e cheira mal.
Pedro Lussati é o único arguido do processo que aparece em tribunal, onde começou o julgamento em 28 de junho passado.
Sobre as malas de dinheiro detido em sua posse, entre dólares, kwanzas e euros, o major das FAA disse tratar-se de sete malas, onde contém também documentos importantes, referindo que o dinheiro apreendido faz parte do seu património, avaliado em mais de 100 milhões de dólares, e também dos seus sócios.
“O que eu tenho nos Estados Unidos, em Portugal e noutros lugares é meu e sempre foi, aquele dinheiro da série de 2021 é meu dinheiro, nunca assaltei banco nenhum, e não se deve associar o meu dinheiro com situações que não têm nada a ver”, assinalou.
“Isto é uma cilada que fizeram contra mim”, atirou Pedro Lussati, que é acusado de “sobrefaturar” folhas de salários e de fazer parte de um “esquema fraudulento” na Casa de Segurança do Presidente da República de Angola, onde era funcionário.
“Eu enquanto oficial da Casa de Segurança [do Presidente da República] nunca tive autoridade e nem autonomia e nem na UGP [Unidade de Guarda Presidencial]. Na UGP era soldado, era oficial da sala de operações, enquanto eu naquela altura já era engenheiro”, explicou.
Nas suas alegações, o também considerado “major milionário” disse ser apenas um oficial que imprimia folhas de salário, sob ordem do seu chefe que tinha uma planilha onde constavam os limites financeiros e os planos orçamentais mensais e anuais.