Os subúrbios da capital da Guiné-Conacri foram hoje cenário de confrontos entre dezenas de manifestantes jovens e forças da ordem, na sequência de um apelo para protestos contra a junta militar no poder no país há um ano. Grupos de jovens, armados com pedras, enfrentaram a polícia na Route Le Prince, eixo que atravessa os subúrbios da capital e cenário frequente deste tipo de protestos, a que as forças de segurança responderam com gás lacrimogéneo.
A Frente Nacional de Defesa da Constituição (FNDC), coligação de partidos, sindicatos e organizações da sociedade civil, apelou a uma concentração pacífica contrariando a proibição de todas as manifestações decretada em 13 de maio pela junta militar e da decisão desta última de dissolver o coletivo na semana passada.
O FNDC patrocinou entre 2019 a 2021 várias ações de protesto contra um terceiro mandato presidencial de Alpha Condé (2010-2020), que viria a ser derrubado em 05 de setembro de 2021 pelos militares, chefiados pelo coronel Mamady Doumbouya.
A coligação é agora a principal personagem dos protestos contra a junta militar, com a oposição tradicional consideravelmente enfraquecida.
O FNDC, que exige o regresso à ordem constitucional e denuncia o confisco do poder pelos militares, patrocinou duas jornadas de manifestações nos passados dias 28 e 29 de julho, proibidas pelas autoridades e nas quais cinco pessoas morreram.
As autoridades mobilizaram polícias em grande número e, segundo a AFP, diferentes bairros nos subúrbios davam a aparência de uma cidade fantasma pela manhã, com muitas empresas e grandes espaços comerciais a optarem por fechar portas por receio de atos de violência.
Dois dos líderes do FNDC, Oumar Sylla, conhecido como Foniké Mangué, e Ibrahima Diallo estão detidos desde as manifestações no final de julho.
Estas novas tensões surgem quando a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou no domingo a visita a Conacri do seu mediador para a crise guineense, o ex-Pesidente do Benim Thomas Boni Yayi.
O coronel Mamady Doumbouya, empossado Presidente, prometeu devolver o poder a civis eleitos dentro de três anos, mas a oposição e a CEDEAO querem uma transição mais curta.