Milhões de russos começam a sentir o efeito das sanções económicas internacionais aplicadas à Rússia na esperança de fazer recuar o país na invasão à Ucrânia. Alguns testemunhos de cidadãos foram partilhados com a BBC, expondo as dificuldades que têm vindo a experienciar ao longo dos últimos dias.
“Se eu pudesse deixar a Rússia agora, deixava. Mas não me posso despedir”, confessou Andrey, explicando que se deixar o seu trabalho não conseguirá pagar a hipoteca da casa em Moscovo, na Rússia, visto que as taxas de juros aumentaram.
Outro cidadão, um designer industrial de 31 anos, admitiu estar a planear “encontrar novos clientes no exterior o mais rápido possível e sair da Rússia com o dinheiro que tem poupado”. Revelou que está “com medo”, uma vez que a polícia deteve pessoas que alegadamente falaram contra “a linha do partido”. Disse até sentir-se “envergonhado” com a situação, visto que não votou “nos que estão no poder”.
Daria, de 35 anos, gerente de projetos em Moscovo, admitiu que não conseguiu sequer utilizar o metro porque sempre pagou com o telemóvel e “simplesmente não funciona”, esclarecendo que “havia outras pessoas com o mesmo problema” porque “as barreiras são operadas pelo banco VTB que está sob sanções e não pode aceitar Google Pay e Apple Pay”. Como tal, teve que comprar um cartão de metro, mas também não conseguiu pagar numa loja “pelo mesmo motivo”.
As sanções começam a atingir os cidadãos russos e as suas economias após serem aplicadas a alguns bancos, o que inclui o corte de Visa e Mastercard e, consequentemente, Apple Pay e Google Pay. Com o pavor, muitos, no fim de semana, tentaram levantar dinheiro, o que levou o banco central a pedir calma.
“Não há dólares, nem rublos. Nada! Bem… há rublos, mas não estou interessado”, disse Anton, de 19 anos, enquanto estava na fila de uma caixa multibanco em Moscovo. “Não sei o que fazer a seguir. Receio que estejamos a transformar-nos na Coreia do Norte ou no Irão”, salientou.
De acordo com a BBC, comprar moeda estrangeira custa aos russos cerca de 50% a mais do que custava há uma semana, caso a consigam obter. De referir que, no início de 2022, um dólar valia cerca de 75 rublos e um euro 80, mas a guerra estabeleceu novos recordes, na passada segunda-feira, um dólar correspondia a 113 rublos e um euro a 127.