“Os acordos de Brasília [assinados em 2021] para facilitação da circulação entre os países da CPLP continuam, no essencial, não direi `letra morta`, mas de pouca utilidade; as dificuldades e restrições à circulação de bens, serviços e capitais mantêm-se e, em alguns casos, até ficaram agravadas”, criticou Olavo Correia, numa apresentação no Segundo Fórum de Economistas da ALECON — Associação Lusófona de Economia, que decorreu na sede da UCCLA em Lisboa.
“Enquanto líder da CPLP e da lusofonia, quando vejo artistas, empresários, jovens talentosos que não conseguem obter um visto para circular no espaço da CPLP, quase que mendigam para obter um visto — e nós aqui a falar da CPLP como espaço de liberdade — há aqui uma grande contradição”, acrescentou o governante cabo-verdiano.
Enquanto político, disse ainda o vice-primeiro-ministro, arrancando palmas entre a audiência, “a coisa mais grave que existe na liderança é o hiato entre aquilo que nós prometemos entregar e aquilo que entregamos. Porque matamos a confiança. É melhor não prometer. Mas quando prometemos e não entregamos, matamos aquilo que de mais importante existe na política e na liderança: a confiança. Sem confiança não há liderança. Acabou tudo”, disse.
“[A mobilidade] é fundamental para que os talentos na CPLP possam movimentar-se, possam criar valor, para os nossos países em concreto e na comunidade em conjunto”, defendeu.
“O meu apelo é mobilidade, mobilidade, mobilidade. É a pedra angular para a construção de qualquer projeto conjunto ao nível da lusofonia e da CPLP. Queremos uma CPLP plena, sem limites nem fronteiras, uma CPLP sem truques legislativos”, afirmou.
Olavo Correia sublinhou que Cabo Verde, com 500 mil habitantes, recebe por ano hoje mais de um milhão de turistas europeus e quer chegar aos 2 milhões.
“Temos mais europeus em Cabo Verde do que cabo-verdianos em Cabo Verde. Então este país, que é Cabo Verde, não merece, no mínimo, a reciprocidade? Merece vivenciar aquilo que estamos a vivenciar?”, questionou.
A mobilidade constitui, por outro lado, uma oportunidade e não um problema, segundo o governante, e um dos instrumentos pode ser a criação de instituições de formação com dupla certificação no âmbito da CPLP “para se regular o problema da emigração”.
“Temos na CPLP uma grande oportunidade ao nível da emigração, que é formar jovens nos nossos países, que podem trabalhar na União Europeia, tendo em conta o perfil demográfico dos nossos países, mas olhamos para isso como um grande problema e um grande drama”, afirmou.
“Se isso for planeado, se for regulado, é uma oportunidade para os nossos países e também para Portugal e os demais países europeus”, reforçou.
“Porque é que não somos capazes de formar centros de excelência com dupla certificação para formar jovens para trabalharem nos nossos países e nas demais geografias a nível da UE e dos Estados Unidos?”, deixou no ar Olavo Correia.
Fundada em 1996, a CPLP integra atualmente nove países – Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.