“Não fomos forçados a escolher entre os Estados Unidos e a China, nem estamos a ser forçados a escolher; o mais importante é o que fazem com o dinheiro, a ajuda, os empréstimos, se é para os líderes políticos se enriquecerem a si próprios, ou se é para enriquecerem o seu povo”, disse Emmanuel Gyimah-Boadi durante uma conversa com o diretor do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI), Abebe Aemro Selassie, transmitida nesta segunda-feira
Nessa conversa em forma de entrevista, o ganês Gyimah-Boadi acrescentou: “O importante é que a escolha que os líderes fazem seja baseada no interesse do povo, porque onde escolhem ir [para obter financiamento] não é tão importante como a razão da escolha, e a escolha principal é entre servirem-se a si próprios ou servirem o povo”.
Na entrevista, o cofundador do Afrobarómetro lembrou mesmo que os países africanos, quando precisam de financiamento externo, também enfrentam uma escolha entre recorrer ao FMI ou emitir dívida soberana ou contrair um empréstimo de fontes oficiais bilaterais, como a China ou outros países.
“Quando alguns governos tiveram de escolher entre recorrer ao FMI ou emitir Eurobonds [emissões de dívida soberana nos mercados internacionais em moeda estrangeira], escolheram as Eurobonds porque era mais fácil e rápido e não queriam estar sujeitos aos condicionalismos do FMI”, disse Gyimah-Boadi, defendendo que os governos devem “ser disciplinados com o que fazem com os empréstimos, venham de onde vierem, porque estão a contrair dívida em nome do povo, não estão a contrair empréstimos para a sua conta pessoal, onde ninguém pergunta para onde foi o dinheiro”.
As declarações de Gyimah-Boadi surgem poucos dias depois do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) ter terminado em Pequim, no qual a China comprometeu-se a investir 50 mil milhões de dólares, à volta de 54 mil milhões de euros, nos próximos três anos em África, tendo assinado acordos de cooperação em áreas como a energia, infraestruturas, saúde e redes digitais.
O Afrobarómetro é uma rede de sondagens pan-africana e não partidária, que disponibiliza informação sobre as experiências e a avaliação da democracia, governação e qualidade de vida no continente, de acordo com a informação do site, que afirma que os dados da edição deste ano foram recolhidos entre 2021 e 2023 em 39 países africanos.
Comentando algumas das principais conclusões que resultam do inquérito à escala continental, Gyimah-Boadi destacou, entre outras, a vontade dos cidadãos em terem mais facilidade de acesso a informações governamentais e vincou que os inquiridos defendem a existência de meios de comunicação social independentes e mais responsabilização dos governos, num contexto em que o desemprego é a principal preocupação.