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Relações com RDCongo, economia e sucessão são os desafios de Paul Kagame no Ruanda

todayJulho 17, 2024 71

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Anunciado vencedor das presidenciais de segunda-feira no Ruanda, Paul Kagame vai ter de se concentrar no quarto mandato presidencial em como melhorar as más relações com Kinshasa, manter o crescimento económico e preparar a sucessão, segundo especialistas.

As relações historicamente tempestuosas entre o Ruanda e o seu grande vizinho, a República Democrática do Congo (RDCongo), deterioraram-se desde o ressurgimento da rebelião M23 no final de 2021, que conquistou territórios no leste da RDCongo.

Kinshasa acusa o exército ruandês de combater ao lado do M23 e um relatório de peritos da ONU dá credibilidade à acusação, quando afirma que “3 mil a 4 mil soldados ruandeses” combatem com os rebeldes e que as forças armadas ruandesas assumiram “de facto” o “controlo e a direção das operações do M23”.

Sem negar formalmente a presença de tropas naquele país, Paul Kagame manteve sempre uma postura “defensiva”.

“Cada vez mais, estudos mostram que o modelo de desenvolvimento do Ruanda está fortemente dependente do acesso ilícito aos recursos naturais do leste da RDCongo”, nomeadamente os minerais, explica Paul-Simon Handy, diretor para a África Oriental do Instituto de Estudos de Segurança (ISS), referindo-se a uma “dependência prejudicial que conduz ao conflito”.

Ismael Buchana, professor de Ciências Políticas na Universidade do Ruanda, também ouvido pela agência France Presse (AFP), não tem dúvidas: “O diálogo é a única opção”.

Mas, até à data, todas as tentativas de mediação se revelaram infrutíferas, entre as quais a do Presidente angolano, João Lourenço.

No plano económico, o Ruanda ficou arruinado após o genocídio de 1994, mas as medidas postas em prática por Kagame levaram o país a registar, desde então, um desenvolvimento reconhecido internacionalmente.

O seu PIB aumentou mais de seis vezes entre 2000 e 2022 e o crescimento económico foi acompanhado de progressos socioeconómicos (esperança de vida, mortalidade infantil, por exemplo) e de infraestruturas (estradas, eletricidade, hospitais, entre outros).

Mas, “o modelo que presidiu ao crescimento do Ruanda após o genocídio, está a mostrar os seus limites”, afirma Paul-Simon Handy.

Este crescimento, que se estabilizou em cerca de 7%, depende em grande parte da ajuda internacional, que diminuiu nos últimos dez anos devido às crises do M23, e do Estado ruandês, cuja dívida pública representará 69,9% do PIB em 2024, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Sem saída para o mar, sem recursos naturais e sem base industrial, o Ruanda enfrenta um grande desafio ao tentar evoluir para uma economia de serviços, como o porto seco de Masaka, desenvolvido pelo gigante da logística dos Emirados DP World.

Entre os desafios que se avizinham, Louis Gitinywa, advogado e analista político ruandês, destaca “o desemprego crescente, a inflação, a educação, a pobreza”.

Longe da imagem moderna de Kigali, a pobreza continua viva: em 2024, quase um em cada dois ruandeses (48,4%) viverá com menos de 2,15 dólares (2 euros) diários, segundo o Banco Mundial.

A taxa de desemprego entre os jovens, que constituem a maioria da população, era de 16,6% no primeiro trimestre de 2024, de acordo com as estatísticas oficiais.

Paul Kagame repete que, desde 2010, tem vindo a pedir ao seu partido, a Frente Patriótica Ruandesa, que lhe encontre um sucessor, mas continua ao leme e muitos ruandeses não conseguem imaginar outro líder.

A questão da sua sucessão foi adiada pela revisão constitucional de 2015, que, depois de ter atingido o limite de dois mandatos de sete anos, lhe permitiu concorrer a mais um mandato de sete anos (2017-2024), e agora a dois mandatos de cinco anos (2024-2029, 2029-2034).

Ismael Buchana considera que “isto é algo a que ele deve dar prioridade para cimentar e solidificar as suas conquistas”.

“É sempre preocupante quando a vida política e económica de um país está tão dependente de uma só pessoa”, considera Paul-Simon Handy, para quem esta sucessão “será um verdadeiro teste” para o Ruanda.

Os resultados preliminares das eleições de segunda-feira (quando estavam contados 80% dos boletins) dão a vitória a Kagamé, com 99,15% dos votos, numa eleição que foi vedada aos seus principais opositores.

Editor: Carla

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