Willem Els, coordenador do programa de Crime Organizado e Terrorismo no Institute for Security Studies (ISS) sul-africano, considerou, este domingo, em declarações à Lusa, que a indústria de raptos está a “tornar-se uma pandemia na África do Sul”.
O investigador admitiu não ter informações específicas sobre o sequestro de um pequeno empresário português no início da semana nos arredores de Joanesburgo, mas sublinhou não apenas o “forte crescimento” desta actividade criminosa na África do Sul, onde “está realmente a ficar fora de controlo”, como as suas fortes ligações a Moçambique.
A prática de raptos para obtenção de resgates “está realmente a ficar fora de controlo na África do Sul, que tem já, de longe, a maior taxa de raptos entre os países africanos” sublinhou, e é uma das mais elevadas do mundo, com cerca de 9,57 raptos por cada 100 mil habitantes, segundo o relatório de 2024 da organização World Population Review.
“A máfia em Moçambique é muito forte, rapta pessoas falantes de português aqui na África do Sul, e por isso defendemos recentemente a necessidade de cooperação transfronteiriça para travar os raptos em ambos os países”, afirmou Willem Els. Borges Nhamirre, antigo jornalista da Bloomberg e actualmente colaborador do ISS em Maputo, especialista em questões relacionadas com o crime organizado e terrorismo, foi o autor do estudo referido por Els, publicado pelo instituto sul-africano em Março de 2023.
Segundo este investigador, os sindicatos de crime organizado a operar no eixo Maputo-Gauteng-KwaZulu Natal – as duas maiores províncias sul-africanas – reclamam a grande maior parte do volume financeiro obtido pela indústria dos raptos nos dois países. “Em termos de volume financeiro, os raptos associados ao eixo Maputo-Gauteng – que podem incluir a participação de actores paquistaneses e indianos — são responsáveis pela maior soma de dinheiro resultante dos resgates”, afirmou à Lusa.
A África do Sul registou mais de 16 mil sequestros em 2023, começou por ilustrar o especialista moçambicano, “mas menos de 20 raptos movimentaram a maior parte do dinheiro, porque os alvos são empresários”.