“Não sei aonde que as pessoas descobriram o meu número de telefone. A chatear-me, a insultar-me. Um (adepto francês) disse que se soubesse onde eu morava, podia-me dar um tiro. Que o que eu fiz, não se faz…”, revelou o antigo jogador, em entrevista à agência Lusa.
Aos 63 anos e radicado na Austrália, onde dá aulas de futebol e acompanha o crescimento dos filhos, Vata, que representou o Benfica entre 1988 e 1991, reconhece que o golo apontado aos 83 minutos ainda dá muito que falar.
O Benfica defrontava no Estádio da Luz o Marselha, em jogo da segunda mão das meias-finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, depois de ter perdido em França por 2-1, e foi o golo do avançado angolano a carimbar a vitória e o apuramento benfiquista para a final da prova.
Para Vata, continua a não existir qualquer ilegalidade no lance, apesar das imagens mostrarem que terá marcado com o braço, algo que o avançado continua a recusar, 34 anos depois, dizendo que não tem qualquer vantagem em negar a situação.
“Quando o Valdo bateu (o canto), e antes de a bola chegar onde eu estava, o Di Meco estava a agarrar-me. Estava nas minhas costas, estava a agarrar-me. Eu não tinha outro jeito, eu tinha de meter o ombro…”, referiu.
Para o antigo internacional só existe uma razão para a evidência do ombro ser negada, a importância que o jogo teve à época, o que representava para o Marselha e as constantes declarações polémicas do ex-presidente do clube Bernard Tapie.
“Agora, vou mentir para quê? Vou ganhar o quê? O quê? Agora, aquilo que eu disse, qualquer pessoa que estava no outro lado, do Marselha, sinceramente, naquele momento, o problema era o momento do jogo, a importância do jogo, que deu aquela polémica. (…) A importância do jogo faz com que o golo seja falado até hoje, as pessoas chateiam-me até hoje”, admitiu.
A explicação do lance continua a ser clara para o jogador, foi no movimento em que se tentou libertar do lateral Di Meco – com quem falou recentemente -, que meteu o ombro na bola, numa fração de segundo após um primeiro desvio de Magnusson.
Provocações de Mozer
O jogador lembrou também a sua entrada em campo, pressionado pelo antigo companheiro Mozer, defesa central internacional brasileiro que na época anterior vestia as cores do Benfica e se transferira para os franceses.
“Quando eu entrei no campo, a primeira coisa foi que o Mozer me deu uma chapada, ele, o Mozer, juntamente com o (Franck) Sauzée, apertaram-me ali e o Mozer disse: ‘negão’, você não vem aqui para estragar a festa”, contou o antigo avançado.
Vata garantiu que não se deixou intimidar e que, pouco antes de entrar, o treinador Sven-Goran Eriksson mostrou que contava com a sua ajuda, ele que já tinha marcado ao Marselha (1-0) ainda no início do ano, num particular pela transferência de Mozer.
“Quando foi o jogo da segunda mão, lembro-me que estava no posto médico, e lembro-me dele [Eriksson] dizer ‘quando as coisas complicarem vou precisar de você’”, revelou ainda o antigo atacante.
Otimista à distância
Atualmente, Vata segue os jogos do Benfica sempre que pode, apesar da grande diferença horária para Melbourne (mais 10 horas), e acredita que os encarnados vão novamente afastar os franceses de uma competição europeia.
Na história, o Marselha caiu perante o Benfica na Taça dos Clubes dos Campeões Europeus de 1989/90, competição em que as “águias” perderiam na final com o AC Milan (1-0), mas também nos oitavos de final da Liga Europa de 2009/10.
“Eu tenho a certeza que o Benfica vai passar. O Marselha tem um trauma, entendeu? Já no Estádio da Luz, eles não vão ter sossego. (…) Acho que o Benfica vai fazer um bom resultado, o resultado de casa vai resolver o jogo em Marselha. Eles vão fazer tudo para se vingar do jogo, mas o Benfica tem sempre 60 ou 70% de caminho para ganhar essa eliminatória“, vaticinou o avançado.
Benfica e Marselha defrontam-se na quinta-feira (20h00), em jogo no Estádio da Luz, da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa, estando a segunda mão agendada para 18 de abril, em França.