No seu discurso no ato central do Dia da Independência, na cidade Guadalupe, no distrito de Lobata, zona norte de São Tomé, Carlos Vila Nova disse que o país ainda enfrenta “problemas imediatos”, que foram agravados pela conjuntura internacional desfavorável, os efeitos da pandemia de covid-19 e “o conflito entre a Rússia e a Ucrânia”.
“A pobreza continua a grassar, a crise energética persiste, o poder de compra dos santomenses é cada vez mais fraco, há falta de emprego, sobretudo de emprego jovem, o tecido empresarial encontra-se extremamente fragilizado, a justiça não responde satisfatoriamente às querelas que assolam a sociedade”, enumerou Carlos Vila Nova.
O chefe de Estado são-tomense acrescentou que o sistema de saúde do país “não oferece aos santomenses a satisfação às suas necessidades, o investimento privado é incipiente e muitas vezes morto à nascença por diversas razões, as famílias estão cada vez mais desestruturadas” e as forças políticas “não convergem sobre as prioridades e a melhor forma de conduzir os destinos do país”.
Segundo o Presidente são-tomense o caminho para a conquista da independência económica de São Tomé e Príncipe “tem-se mostrado longo e difícil”, sendo atualmente “incapaz de gerar empregos e riqueza” e garantir o progresso, o desenvolvimento e uma melhor qualidade de vida a todos os são-tomenses.
“A fraqueza da nossa economia, fruto da dependência da ajuda internacional, da insularidade, de decisões menos acertadas tomadas ao longo dos anos e de desafios que não logramos vencer nestes 48 anos conduziram o país a uma situação de decadência, cujos efeitos nefastos se têm feito sentir sobre a vida das populações com muita acuidade nos últimos tempos”, sublinhou Vila Nova.
O chefe de Estado salientou que “os são-tomenses têm-se debatido com problemas reais e imediatos que reclamam igualmente soluções reais e imediatas”, que devem ser adotadas com o esforço, a dedicação, a persistência e o contributo de todos.
“O momento não é e não pode ser de divisão, mas de união. Não é e não pode ser de confronto, mas de harmonia. Não é e pode ser de agitação, mas de tranquilidade, não é e não pode ser de arrogância, mas de humildade, não é e não pode ser de dispersão, mas de convergências, não é e não pode ser de discórdias paralisantes, mas de críticas construtivas”, defendeu.
O Presidente são-tomense insistiu na necessidade de diálogos, consensos e paz entre os vários atores da política e da sociedade do arquipélago.
“Neste jogo, cabe-me o papel de árbitro, que nestes quase dois anos de mandato, tendo já trabalhado com dois governos diferente, tenho desempenhado com sentido de Estado, tendo sempre em vista, não [os] ressentimentos ou interesses partidários, de grupos ou pessoas, mas o interesse nacional, ao qual nenhum outro se pode sobrepor no grande processo de transformação do nosso país numa pátria melhor para todos”, disse Carlos Vila Nova.
Olhando para o setor da saúde, o Presidente apontou que ainda falta quase tudo nos hospitais “desde reagentes, medicamentos e meios de diagnóstico básicos, a especialistas e meios mais sofisticados, capazes de dar resposta aos problemas de saúde da população”.
Perante as dificuldades ainda reinante em São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova pediu “especial atenção” para o “fenómeno da emigração em massa que o país vem registando” nos últimos tempos.
“A dimensão e os contornos que este fenómeno tem assumido nos últimos tempos exige de todos uma reflexão cuidada e responsável”, alertou.
Interpelado pela imprensa no final da cerimónia, o primeiro-ministro são-tomense considerou que “foi um bom discurso, com muitas constatações” já feitas por todos, mas sublinhando que é preciso resolver os problemas.
Patrice Trovoada assegurou que “as dificuldades serão ultrapassadas”, com muito trabalho, “com algumas decisões difíceis, luta contra a corrupção e o abuso” e “remédios muito fortes”, face à situação do país.